segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"A victoria do jogo brasileiro: capoeira versus jiu-jitsu"

Estávamos em 1909. A Marinha de Guerra do Brasil tinha acabado de contratar, diretamente do Japão,  um grande campeão e professor de jiu-jitsu, o Senhor Sada Miako. Foi o que bastou para despertar, em atuante grupo de acadêmicos de medicina, a idéia de um tira-teima com a capoeiragem brasileira. Apresentaram, como oponente ao japonês, o campista (Município de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro), o Senhor Francisco da Silva Cyríaco, mais conhecido como Cyríaco Macaco Velho. Francisco da Silva,  mestre de vários desses universitários,  era considerado um dos maiores, senão o maior capoeira brasileiro da época.

Depois de natural relutância, autoridades (inclusive autoridades militares) e o Sr. Pachoal Segreto, proprietário-administrador do  Pavilhão Internacional, resolveram aceitar o desafio.

Em muito pouco tempo, Brasil e Japão tomaram conhecimento do resultado da luta.   Cyriaco, com surpreendente rabo-de-arraia  vencera o campeão que, perplexo, não aceitou a revanche que, ainda no tablado, lhe foi oferecida pelo capoeira.

Dentre as diversas reflexões que o episódio e os registros fotográficos sugerem, neste momento, destaco quatro:

1.      Se houve  luta pública de capoeira, aprovada e presenciada por autoridades civis e militares, como continuar afirmando que a Capoeira só foi liberada (?) pelo Presidente Getúlio Vargas, décadas mais tarde,  através de decreto específico (e fantasma), logo após o presidente assistir roda exemplar?

2.      A adoção de um grande capoeirista por grupo de acadêmicos de medicina, coincidência ou não, voltou a acorrer algumas décadas mais tarde, em Salvador. Talvez um grupo menor de acadêmicos, mas extremamente dedicado e competente, sendo impossível e injusto não destacar a importância de dois deles: 1. O cearense José Cisnando Lima, estudioso também de  outras lutas e conhecedor, como Bimba, do precioso livro  de Annibal ZUMA Burlamaqui); e 2. Ângelo Decânio Filho, também praticante de judô, que hoje em dia, forte e atuante, no alto de seus 83 anos, é considerado a mais importante fonte de informação e intérprete da chamada Luta Regional Baiana.

3.      Pelo tipo de ginga e pela  distinção dos trajes de Cyriaco realmente faz sentido considerar, como fez o Jornal do Capoeira (com muito humor), se esta não seria a linhagem do sempre elegante Mestre Leopoldina.

4.      A deplorável insensibilidade crônica da grande maioria dos mestres, contramestres e pesquisadores do Rio de Janeiro para a importância da Capoeira do Rio Antigo em geral, e da capoeira de Cyriaco em particular. Pena que tenha faltado um Decânio no grupo de alunos de Cyriaco, pois, neste caso, ele não estaria tão esquecido pelos cariocas, fluminenses e brasileiros em geral (com as raras e honrosas exceções de sempre). Em que pese, é claro, o histórico movimento que fizeram os alunos de Cyriaco que culminou no confronto em tela.

Ironicamente ouço falar mais deste passado heróico do Rio de Janeiro quando viajo. Foi o que aconteceu em visita recente a Aracaju, Sergipe (para detalhes recomendo navegada no Jornal do Capoeira, editado pelo Miltinho Astronauta), onde fui agraciado com valioso presente: um pacote de revistas antigas, publicadas no Rio, então capital federal e distribuídas por todo Brasil. Por elas, entre outras preciosidades, verifico que o famoso conjunto de fotos publicado na Revista Careta (sobre Cyriaco), foi também publicado, em várias outras. Com mais ou menos fotos.  Como está havendo crescente interesse para esta parte ainda encoberta da História da Capoeira, aproveito essa crônica para publicar uma variante do famoso conjunto de fotos feito por ocasião da histórica vitória do  Capoeira sobre o Campeão de Jiu-Jitsu:A Marinha de Guerra do Brasil tinha acabado de contratar, diretamente do Japão, um grande campeão e professor de jiu-jitsu, o Senhor Sada Miako. Foi o que bastou para despertar, em atuante grupo de acadêmicos de medicina, a idéia de um tira-teima com a capoeiragem brasileira. Apresentaram, como oponente ao japonês, o campista (município de Campos dos Goytacazes, no Rio), o Senhor Francisco da Silva Cyríaco, mais conhecido como Cyríaco Macaco Velho. Francisco da Silva, mestre de vários desses universitários, era considerado um dos maiores, senão o maior capoeira brasileiro da época.Depois de natural relutância, autoridades (inclusive autoridades militares) e o Sr. Pachoal Segreto, proprietário-administrador do  Pavilhão Internacional, resolveram aceitar o desafio.

Em muito pouco tempo, Brasil e Japão tomaram conhecimento do resultado da luta. Cyriaco, com surpreendente rabo-de-arraia, venceu o campeão que, perplexo, não aceitou a revanche que, ainda no tablado, lhe foi oferecida pelo capoeira.Dentre as diversas reflexões que o episódio e os registros fotográficos sugerem, neste momento, destaco quatro: 

 Se houve luta pública de capoeira, aprovada e presenciada por autoridades civis e militares, como continuar afirmando que a Capoeira só foi liberada (?) pelo presidente Getúlio Vargas décadas mais tarde, através de decreto específico (e fantasma), logo após o presidente assistir roda exemplar?A adoção de um grande capoeirista por grupo de acadêmicos de medicina, coincidência ou não, voltou a acorrer algumas décadas mais tarde, em Salvador. 

Talvez um grupo menor de acadêmicos, mas extremamente dedicado e competente, sendo impossível e injusto não destacar a importância de dois deles: o cearense José Cisnando Lima, estudioso também de outras lutas e conhecedor, como Bimba, do precioso livro de Annibal ZUMA Burlamaqui); e Ângelo Decânio Filho, também praticante de judô, que hoje em dia, forte e atuante, no alto de seus 83 anos, é considerado a mais importante fonte de informação e intérprete da chamada Luta Regional Baiana.

Pelo tipo de ginga e pela distinção dos trajes de Cyriaco, realmente faz sentido considerar, como fez o Jornal do Capoeira (com muito humor), se esta não seria a linhagem do sempre elegante Mestre Leopoldina.A deplorável insensibilidade crônica da grande maioria dos mestres, contramestres e pesquisadores do Rio de Janeiro para a importância da Capoeira do Rio Antigo em geral, e da capoeira de Cyriaco em particular. Pena que tenha faltado um Decânio no grupo de alunos de Cyriaco, pois, neste caso, ele não estaria tão esquecido pelos cariocas, fluminenses e brasileiros em geral (com as raras e honrosas exceções de sempre). Em que pese, é claro, o histórico movimento que fizeram os alunos de Cyriaco que culminou no confronto em tela.Ironicamente, ouço falar mais deste passado heróico do Rio de Janeiro quando viajo. Foi o que aconteceu em visita recente a Aracaju, Sergipe (para detalhes recomendo navegada no Jornal do Capoeira, editado pelo Miltinho Astronauta), onde fui agraciado com valioso presente: um pacote de revistas antigas, publicadas no Rio, então capital federal e distribuídas por todo Brasil. Por elas, entre outras preciosidades, verifico que o famoso conjunto de fotos publicado na Revista Careta (sobre Cyriaco), foi também publicado em várias outras. Com mais ou menos fotos. Como está havendo crescente interesse para esta parte ainda encoberta da História da Capoeira, aproveito essa crônica para publicar uma variante do famoso conjunto de fotos feito por ocasião da histórica vitória do Capoeira sobre o Campeão de Jiu-Jitsu:

Manchete Final da Ilustração:
"Cyriaco, como todos sabem, venceu em poucos minutos, no tablado do Concerto Avenida, o até então invencível Miaco, professor japonez da luta jiu-jitsu. Cyriaco, natural de bom gênio, mas destro e conhecedor de capoeiragem como poucos quis repetir a dose, no que não consentiu o japonez vencido. Isto vem provar mais uma vez as vantagens da capoeiragem como exercício, que há longo tempo preconizamos pelas columnas do Jornal do Brasil, vantagens que subiriam mais se fosse methodizado o exercício, expurgados os golpes misteriosos e mortaes". (Revista da Semana, 30 de maio de 1909 - Domingo - Anno IX - 472)

fonte e creditos-  
http://www.capoeira.jex.com.br/cronicas/a+victoria+do+jogo+brasileiro+capoeira+versus+jiu-jitsu+-+parte+final

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